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A doce energia dos vulcões!

  • 01 September 2006

Duas centrais geotérmicas, construídas com o apoio do FEDER, provaram que os vulcões são, para os Açores, uma fonte de energia endógena, segura e limpa, capaz de paliar a sua situação ultraperiférica.

Contexto

Emergindo do oceano na convergência de três placas tectónicas, americana, africana e euro-asiática, na dorsal médio-atlântica, que é uma das zonas de menor espessura da crosta terrestre, o arquipélago dos Açores é uma zona de intenso vulcanismo, ao qual o arquipélago deve a sua formação. Esta peculiaridade constitui, aliás, uma oportunidade única para esta região ultraperiférica, economicamente desfavorecida, cujas nove ilhas se dispersam numa superfície de 600 quilómetros e distam 1500 quilómetros de Portugal continental.

Com efeito, os Açores têm um acesso privilegiado a uma fonte de energia inesgotável que brota do centro da Terra: a geotermia, ou mais precisamente, os campos geotérmicos a elevada temperatura, que se encontram apenas em certas condições geológicas. Obrigados a importar energia para consumo próprio, quando a distância e a dispersão da sua população (240 000 habitantes) aumentam o custo das infra-estruturas e, por conseguinte, o custo da electricidade, os Açores têm na energia dos vulcões uma resposta natural às suas necessidades neste domínio.

Cada vez mais importante

Foram as pesquisas efectuadas em 1973 por estudantes universitários junto à Ribeira Grande, na vertente norte do maciço vulcânico do Fogo, na ilha de São Miguel, que revelaram a importância do gradiente geotérmico (*) elevado deste local. A existência de um importante jazigo geotérmico com uma temperatura de aproximadamente 230°C a uma profundidade superior a 800 metros foi confirmada por diversos estudos científicos e sondagens termométricas. Uma primeira central, construída em 1980 no Pico Vermelho, serviu de projecto-piloto para transformação da energia geotérmica em electricidade.

A transição para uma fase industrial efectuou-se sob a égide da Sociedade Geotérmica dos Açores (SOGEO) S.A., fundada em 1990 como sucursal da Companhia de Electricidade dos Açores (EDA). Em 1994, foi concluída a primeira fase do projecto da Central Geotérmica da Ribeira Grande, no sector de Cachaços-Lombadas, com a instalação de dois turbo-geradores, que representam uma potência unitária de 2,5 MW, seguida, em 1998, pela construção de duas outras unidades de 4 MW cada. A potência instalada da central cumulava assim em 13 MW. Durante este período, o projecto beneficiou do apoio do programa europeu REGIS, destinado às regiões ultraperiféricas. Está actualmente em curso a construção de uma nova central no Pico Vermelho, para substituir a antiga e capaz de produzir uma potência de 10 MW, o que eleva a capacidade do complexo geotérmico da Ribeira Grande/Pico Vermelho para 23 MW.

Resultados

Os dois projectos evidenciaram claramente que, pela fiabilidade das técnicas utilizadas e a viabilidade económica da sua exploração, a geotermia é a fonte de energia renovável mais prometedora para os Açores e aquela que poderá reduzir mais eficazmente a sua dependência energética. A sua origem fá-la escapar à flutuação dos preços dos combustíveis. Constantemente disponível, esta energia não está sujeita às condições meteorológicas, como é o caso das turbinas eólicas e dos painéis solares. Em 2007, a geotermia deverá produzir 161 GWh, ou seja cerca de 38% do abastecimento eléctrico do arquipélago.

Está em estudo outro projecto, executado pela sociedade GeoTerceira S.A., na Ilha Terceira, onde as pesquisas revelaram a existência de um enorme potencial geotérmico, e estão em curso outras prospecções noutras ilhas. O pacote de projectos actualmente em preparação sob a autoridade da SOGEO e da GeoTerceira aponta para um aumento da produção de cerca de 275 GWh por ano a partir de 2010.

Ao exigir recursos humanos altamente qualificados, a geotermia fomenta o desenvolvimento de um pólo de competência regional. Em termos de emprego, as duas centrais, cuja construção mobilizou 80 pessoas, representam actualmente 25 postos de trabalho directos.

Não se pode esquecer, por outro lado, que esta fonte energética é extremamente limpa e não ocasiona qualquer emissão de poluentes, o que representa só por si mais um trunfo importante para região, já reputada pela qualidade excepcional do seu ambiente.

(*) O gradiente geotérmico é a taxa de variação do aumento da temperatura das rochas com o aumento da sua profundidade.