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Mudar a vida dos jovens em Portugal através da música

  • 06 October 2017

A música é o meio mediante o qual a Orquestra Geração portuguesa procura ajudar os jovens desfavorecidos do país. Desde que foi fundada, em 2007, conseguiu, com o apoio financeiro da UE, tocar a vida de centenas de pessoas de zonas desfavorecidas, com idades compreendidas entre os 6 e os 18 anos. 

O objetivo é a inclusão social através da música, em especial das crianças e dos adolescentes mais vulneráveis do ponto de vista social e educacional, e o desenvolvimento de um programa orquestral para jovens do ensino regular, especialmente de escolas com elevadas taxas de abandono escolar e dificuldades, ou mesmo conflitos, no plano das relações multiculturais. A abordagem centra-se no grupo para criar uma forte vontade de trabalhar em equipa, onde valores como a colaboração, a disciplina, o esforço e o respeito mútuo são essenciais. A Orquestra Geração visa, além disso, reforçar a autoconfiança das crianças e dos jovens, bem como ampliar os seus horizontes culturais, profissionais e relacionais, criando laços afetivos com a escola

Helena Lima, coordenadora pedagógica do programa Orquestra Geração

A Orquestra Geração teve início na Amadora, perto de Lisboa, estendendo-se posteriormente a outras cidades, incluindo Almada, Coimbra, Loures, Oeiras, Sesimbra, Sintra, Vila Franca de Xira e Lisboa. Engloba cerca de 22 escolas e trabalha com perto de 1 170 crianças de diferentes origens étnicas.

O objetivo é ensinar os jovens e aumentar a sua inclusão social, ao envolvê-los na música e em orquestras. Este envolvimento incute a disciplina, ajudando os alunos a aprender lições importantes, tanto no contexto musical como para a vida.

Autoestima e autoexpressão

Gerar entusiasmo pela música de orquestra junto de jovens que provavelmente não ouvem este tipo de música parece ser um grande desafio. No entanto, para os alunos da Orquestra Geração, tudo começa com um primeiro passo simples: escolher um instrumento e imitar o professor. Além disso, são responsáveis por cuidar do seu instrumento e por trazê-lo para a aula de orquestra.

A participação permite-lhes desenvolver laços afetivos que reforçam o trabalho em equipa, a autoestima e o respeito mútuo. Dá-lhes igualmente ferramentas para se expressarem de uma forma significativa através da música.

Todos estes elementos contribuem para melhorar a vida dos alunos e a sua formação integral, tanto na dimensão académica como na dimensão social. Esta questão é crucial para os jovens que correm o risco de serem marginalizados. O contributo do programa Orquestra Geração neste domínio foi reconhecido pela Comissão Europeia, que o nomeou como um dos 50 melhores projetos sociais da UE em 2013 e 2014. A Orquestra Geração recebeu também o Prémio Nacional de Professores (inovação) do Ministério da Educação de Portugal em 2010.

Um método que se estendeu a todo o mundo

O desenvolvimento da Orquestra Geração tem por base o programa «El Sistema», uma metodologia musical e social formulada em 1973, na Venezuela, por José António Abreu. A ideia subjacente é a de que, através das orquestras, as crianças podem aprender a conviver, desenvolver competências e evitar envolver-se em problemas. José Abreu formou uma orquestra de músicos profissionais e enviou-os para bairros problemáticos com o objetivo de ensinarem música pela imitação. Na Venezuela, o programa integra atualmente 500 mil pessoas e o método ganhou popularidade no continente americano e na Europa.

Em Portugal, a vertente pedagógica da iniciativa é coordenada pelo Conservatório Nacional de Música — que tem cerca de 80 professores a trabalhar no terreno — ao passo que os aspetos administrativos são assegurados pela Associação das Orquestras Sinfónicas Juvenis, Sistema Portugal. Os alunos passam sete horas por semana em aulas e cada orquestra toca para a escola e para as organizações locais. Duas vezes por ano, reúnem-se todos e tocam em auditórios de prestígio por todo o país, e até mesmo no estrangeiro.

Em algumas cidades, foram criadas orquestras municipais para as crianças dos níveis mais avançados, e os melhores músicos destas orquestras formaram uma orquestra regional. O projeto inclui também uma banda de jazz.

Em 2017, a Orquestra Geração tocou para o Presidente da República e para o Ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal. O repertório inclui desde compositores clássicos como Elgar, Shostakovitch e Bizet, até música tradicional cabo-verdiana e cigana, bem como fado.

Nos últimos cinco anos, 30 alunos descobriram a sua vocação para a música clássica e para o jazz. Dois estão a concluir estudos avançados em violoncelo e contrabaixo, seis estão a estudar música na universidade e 15 estão no ensino secundário e pretendem ingressar posteriormente na universidade. 

O objetivo agora é desenvolver a Orquestra Geração em todo o país, em primeiro lugar nas escolas e, posteriormente, formando outras orquestras municipais e regionais. Existem também planos para criar um instituto destinado a formar mais professores no método «El Sistema».

 

Investimento total e financiamento da UE

O investimento total para o projeto «Orquestra Geração» é de 857 500 EUR, com uma contribuição de 352 490 EUR do Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional através do Programa Operacional «Lisboa» para o período de programação 2007-2013.